
A pergunta que falta ser feita
Todos os anos, o Brasil inteiro veste o amarelo em setembro. Escolas, empresas e até o comércio abraçam a causa da prevenção ao suicídio e da valorização da vida. Mas uma pergunta precisa ecoar: quando falamos de saúde mental, estamos realmente incluindo todos os alunos?
As cartilhas e campanhas oficiais são fundamentais, mas muitas vezes deixam de lado um grupo que enfrenta riscos ainda maiores: os alunos neurodivergentes, autistas, estudantes com TDAH, dislexia ou superdotação. Esses jovens, muitas vezes invisíveis nas ações de conscientização, precisam de estratégias específicas para serem realmente alcançados.
O que diz a cartilha oficial e onde ela falha
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) publicou um material valioso sobre como falar de saúde mental com crianças e adolescentes. O guia incentiva pais e educadores a usarem linguagem simples, normalizarem emoções, ouvirem os jovens e criarem espaços de diálogo.
No entanto, apesar de trazer a Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente, o documento não cita explicitamente os alunos neurodivergentes.
Esse silêncio é preocupante. Estudos apontam que:
- Jovens autistas têm risco 4 vezes maior de desenvolver depressão e ansiedade.
- Estudantes com TDAH apresentam maiores índices de impulsividade e ideação suicida.
- Superdotados, frequentemente incompreendidos, sofrem com crises emocionais e isolamento social.
Se esses dados são conhecidos, por que ainda não aparecem em campanhas oficiais?
Por que o Setembro Amarelo precisa ser inclusivo
Falar de saúde mental é urgente, mas falar de saúde mental com inclusão é pioneiro e necessário.
Quando o aluno neurodivergente não se reconhece nas atividades do Setembro Amarelo, a mensagem é clara: “isso não é para você”. E isso reforça sentimentos de exclusão.
Um Setembro Amarelo verdadeiramente inclusivo deve:
- Reconhecer os diferentes modos de sentir, expressar e aprender.
- Trazer estratégias adaptadas para cada realidade.
- Dar protagonismo também a famílias e cuidadores, que enfrentam sobrecargas emocionais diárias.
Estratégias práticas para professores e escolas
Aqui estão práticas simples e acessíveis que podem ser aplicadas em sala de aula, no AEE ou em projetos escolares durante setembro:
- Roda das Emoções com pictogramas
Cada aluno escolhe uma imagem que representa como está se sentindo. Recurso visual facilita para TEA e TDAH. - Cartão do Acolhimento
Produzir cartões digitais ou impressos com frases curtas de apoio: “Você não está sozinho”, “Estou aqui por você”. - Jogo dos 3 Minutos
Atividade rápida de respiração ou contagem até dez com música suave. Ajuda na regulação emocional. - Caixa da Esperança
Cada aluno escreve ou desenha algo que lhe dá esperança. Reforça autoestima e pertencimento. - Tecnologias de apoio com IA
- Chatbots que simulam conversas seguras para treinar expressão emocional.
- Aplicativos de voz para alunos que têm dificuldade de verbalizar sentimentos.
- Prompts adaptados para professores estimularem rodas de conversa curtas e inclusivas.
Base legal que sustenta essa inclusão
A LBI (Lei Brasileira de Inclusão, Lei nº 13.146/2015), a BNCC e a Declaração de Salamanca garantem o direito à participação de todos os alunos em atividades escolares e de promoção da saúde. Isso significa que o Setembro Amarelo deve ser acessível e adaptado também para estudantes com deficiência e necessidades específicas.
Conclusão: Inclusão é valorização da vida
O Setembro Amarelo não pode ser apenas uma campanha simbólica. Ele precisa ser um movimento inclusivo, capaz de alcançar todos os alunos, especialmente os que mais precisam de apoio.
Reconhecer que a saúde mental de alunos neurodivergentes merece atenção específica não é um detalhe: é uma urgência pedagógica e humana.
🌻 Incluir é cuidar da vida.
👉 Professores, gestores e famílias: que tal reservar 10 minutos de cada aula em setembro para uma atividade socioemocional adaptada? Essa pequena atitude pode salvar vidas.
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Referências e aprofundamento
Este artigo dialoga com a cartilha oficial da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que pode ser acessada neste link. No entanto, aqui trago o olhar inclusivo e pioneiro, essencial para que alunos neurodivergentes também sejam contemplados nas ações de conscientização.
- Associação Brasileira de Psiquiatria. Como falar sobre saúde mental com crianças e adolescentes. 2025.
- Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – Lei nº 13.146/2015.
- Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
- Declaração de Salamanca, UNESCO, 1994.
- Estudos sobre saúde mental em autistas, TDAH e superdotados (APA, 2023; Revista Brasileira de Psiquiatria, 2024).